Os especialistas definem a eco-ansiedade como “sofrimento psicológico associado à percepção da degradação ambiental do planeta”. O governo definiu-a como a pior seca da história do país. Moradores evacuam condomínio em Ribeirão Preto após incêndio em casa Rede reprodutiva/social Fumaça, fuligem, incêndios florestais próximos a estradas, tempestades de poeira e calor incomum para a época faziam parte da rotina dos moradores do interior de São Paulo durante a pior seca. História do país segundo o governo federal. As consequências das alterações climáticas criaram novos fenómenos sociais como a eco-ansiedade, definida como o medo crónico de experimentar uma catástrofe ambiental. O estado de São Paulo passou a semana com a qualidade do ar entre as piores, resultado da baixa umidade relativa do ar, medida pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) Acompanhe o canal g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Ribeirão Preto (SP), queimando desde o início do inverno devido à poluição e aos incêndios florestais. Nesse período, o avistamento de incêndios pela região também se tornou rotina. O auge foi no dia 24 de agosto, quando as cidades foram tomadas por um cenário digno de um filme apocalíptico. Um vento forte traz fumaça vermelha espessa e fogo para o horizonte. Num condomínio, os moradores tiveram que evacuar suas casas depois que um incêndio se espalhou pela área. Segundo a pesquisadora Mariana Lille de Barros, doutora em Psicologia pela USP de Ribeiro Prato, esse conjunto de fatores pode levar à ecoansiedade, que é o “sofrimento psicológico que está ligado à percepção da degradação ambiental do planeta; é um medo que sentimos devido a uma sensação de ameaça sobre o futuro “. Moradores são evacuados após incêndio em condomínio de Ribeirão Preto Chuva com fogo x Desespero emocional Em um dia em que fumaça e fuligem tomaram conta de Ribeirão, a cabeleireira Débora Vieira agendou uma corrente de oração com seus clientes por volta das 20h15, pedindo ajuda divina para que o Fogo seja controlado. Logo após a oração, a mulher registrou em vídeo (veja abaixo) o momento em que veio a chuva, quando ela não conseguiu conter a emoção, que foi compartilhada por todos aqueles que vivenciavam os momentos tristes. Os problemas causados pelo ressecamento fazem parte da rotina do cabeleireiro. Além dos problemas de saúde como cansaço, sangramento nasal e falta de ar, ele notou mais preocupações com o futuro do planeta. Cabeleireiro se emociona após chuva em Ribeirão Preto “Se continuarmos nesse padrão atual, não respiraremos mais ar puro. Está piorando com o passar dos dias. Acredito que isso só pode ser resolvido com uma maior conscientização das pessoas, que são a causa de tudo isso. Ainda estou preocupado porque o fogo não parou, por causa dos animais, que estão pedindo socorro”, disse. Nesse período, era comum encontrar nas redes sociais vídeos de pessoas que, como Débora, quando chovia traz alívio para problemas de seca, seja durante incêndios ou resgate de animais O momento foi desesperador Um grande incêndio na rodovia na região de Ribeiro Preto, SP, chamou a atenção do motorista Marcelo Moraes/EPTV, a cabeleireira Irene Bortolin, de Ribeiro Preto. na casa da filha, na cidade vizinha de Jardinópolis (SP), na manhã de segunda-feira (16). O momento foi suficiente para ele se emocionar, pois sinto que não consigo respirar direito, tenho 65 anos, li. Vivemos em um mundo onde o aquecimento não tem precedentes. Eu me pergunto como será o futuro para essas crianças”, disse o morador de Jabotikabal, que se emocionou ao filmar as chuvas. diagnóstico, Dra. Mariana ressalta que não, pois é uma resposta natural ao que está acontecendo no planeta, que é uma questão urgente do nosso tempo. “Apesar de ser uma doença legítima, a ecoansiedade não deve ser considerada uma patologia. Tratar esse sentimento pode ser perigoso, porque a ansiedade climática não é um problema individual, mas coletivo, e não adianta fingir que o problema não existe”, explica. Funcionários da fábrica são obrigados a evacuar unidades após um incêndio em Além disso, segundo o pesquisador, a preocupação ambiental não é um fenômeno novo. A novidade é que chegou à população das cidades e centros urbanos. , esta agonia psicológica remonta a séculos. A degradação ambiental tem sido uma realidade desde a invasão e exploração colonial e não separa a natureza da cultura. Para eles, atacar uma árvore ou um rio equivale a atacar um ente querido”, disse. Leia mais Animais queimados na região de Ribeirão Preto podem não retornar ao habitat natural Novo incêndio bloqueia rodovia na região de Ribeirão Preto, SP, prevê fumaça de novos incêndios noite E assusta moradores no vídeo se a situação é grave para quem mora no campo, a onda de incêndios florestais no estado de R$ 1 bilhão para quem mora no campo Os danos preliminares causados. A assistência apontou que 3.837 propriedades rurais foram danificadas em São Paulo até o final de agosto. A agricultura familiar, que tem pouca estrutura e recursos para enfrentar o período, sofreu danos irreparáveis. fogo, não dá para apagar. Faz uns sete anos que não conseguimos produzir porque todo ano a reserva pega fogo e acaba acabando o terreno”, disse Luciano Botelho, coordenador do Assentamento Mário Lago, em Ribeiro Preto. O incêndio que destruiu o assentamento Mário Lago, no arquivo pessoal de Ribeirão Preto Ele explica como os agricultores sedentários têm enfrentado o problema mobilizando-se por soluções internas e cobrando do poder público ações e políticas públicas de sustentabilidade. “Você lida com a complexidade das questões psicossociais e precisa ter as habilidades técnicas para lidar com isso. Mas o que sempre fizemos como movimento foi tentar dizer: ‘Olha, o problema não é você, não são as famílias. O problema é a falta de investimento público para garantir o mínimo.’ Digo que não se trata de garantir proteção, mas de um mínimo de dignidade com a destruição que o fogo traz”, explica. A produtora rural de Ribeirão Preto Edline Ramos Villela, dona da Fazenda Buritiz, agricultores que se estabeleceram durante o incêndio em Pedregulho (SP) na última semana. também viveu um momento de terror após um grande incêndio em sua propriedade. Além dos danos materiais, o produtor relata que o futuro está em risco se não forem tomadas medidas. Quase 60% de sua propriedade é designada como reserva ambiental e praticamente. tudo está em chamas Queimado Mesmo com aceiros, cera e resfriamento a seco, disse ele, é praticamente impossível controlar sem a mobilização de uma grande força-tarefa e equipamentos. Ao todo, o incêndio está em risco. Foram necessárias mais de 10 pessoas. dias de sono para se revelar “Foi uma coisa assustadora e é diferente ver isso na televisão e vivê-lo. Estamos lá todos os dias. Esta é a nossa vida. Isso é muito difícil para nós, entendeu? Que você o reviva todos os dias. Aquela cena do incêndio é deprimente pessoal, a chegada dos bombeiros, aquela cena horrível, ver uma criança em perigo de morte e as coisas vão piorar? Segundo Edline, o mais difícil tem sido lidar com desastres ambientais, encontrar animais mortos, perda da biodiversidade local e falta de preparo e estrutura para lidar com a situação nesse período. Ele agora promete transformar a dor em ação no próximo ano. Incêndios na região podem atrapalhar produtores rurais Pedregulho, SP A ansiedade ecológica pode ser positiva? Embora a preocupação ecológica pareça negativa, pesquisadores ouvidos pelo g1 alertam que é uma emoção importante para a transformação social do clima. Marianna alerta que o mais importante é o destino que será dado a esse sentimento, que deve contribuir para reverter as causas do problema climático. “É importante lembrar que você não está sofrendo sozinho. O que fazemos em relação a esse sofrimento? Então, as preocupações ambientais não são o problema, mas temos que pensar no destino desse sofrimento. Trabalhar coletivamente em sua cidade ou comunidade é uma tarefa árdua. maneira positiva de lidar com isso.” Frederico Dia, professor da Universidade Estadual Paulista (UNSP) em Franca e coordenador do Núcleo Agrário Terra e Rise, destaca que não somos apenas afetados pelas mudanças climáticas, estamos criando-as todos os dias com nossas escolhas. Para o pesquisador, como estamos alimentando uma cultura ecológica prejudicial, podemos desenvolver medidas que ajudem a eliminar o problema. “A mudança local é importante. Por exemplo, caminhar por um bairro sem árvores e depois por outro cheio de árvores faz uma diferença imediata: temperaturas mais amenas, ar mais respirável. No entanto, enfrentar a crise, que se desenrola a nível mundial, exige uma abordagem igualmente global. As mudanças locais afectam a vida local, mas não resolvem os problemas estruturais. Precisamos articular ações em diferentes escalas: global, local, temporal, geográfica.” O pragmatismo ajuda, o alarmismo é um vilão O relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) reconhece que as alterações climáticas podem ser revertidas se forem tomadas medidas imediatas a nível global. e a nível local, os investigadores alertam que cair no pessimismo e no fatalismo não ajuda a encontrar a solução mais afetada pela crise, com o poder público de Pedregulho a procurar formas de planear o próximo ano para saber o que acontece. serão tomadas medidas para evitar o incêndio O assentamento Mário Lago está arrecadando recursos para investir na resistência dos produtores que ali vivem, além da solidariedade política, característica do movimento social que luta por direitos no campo. que as pessoas se importam, porque pouco se falou antes e precisamos conversar sobre isso, por outro lado nos afastamos do ‘não tem problema, será daqui a alguns séculos’ e evitamos ‘já é o fim do mundo’ . Existe um meio-termo e muito pode ser feito, por isso precisamos nos preocupar para que possamos ver possíveis soluções”, afirma Mariana. Veja mais notícias da região no vídeo do G1 Ribeirão Preto e Franca: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região