CIDADE DO MÉXICO – O Senado do México aprovou na quarta-feira uma reforma judicial que motivou uma greve de funcionários do tribunal, prejudicou as relações com os Estados Unidos e desencadeou volatilidade no mercado da segunda maior economia da América Latina.

A medida foi proposta pelo presidente cessante Andrés Manuel López Obrador e apoiada pela presidente eleita Claudia Sheinbaum, que toma posse em 1º de outubro. López Obrador argumentou que a reforma judicial é essencial para garantir que o sistema realmente atenda ao público e não seja vulnerável ao crime organizado.

O QUE É A REFORMA?

A espinha dorsal da reforma implica a eleição popular de mais de 6.500 juízes, magistrados e ministros, incluindo para a Suprema Corte do México. Juízes para a mais alta corte têm sido tradicionalmente confirmados pelo Senado a partir de uma lista final enviada pelo presidente do México.

A reforma também reduz o número de juízes da Suprema Corte de 11 para nove, corta a duração de seus mandatos para 12 anos, abole o requisito de idade mínima de 35 anos e reduz pela metade a experiência de trabalho necessária para cinco anos. Os juízes também poderão trabalhar anonimamente em casos envolvendo crime organizado.

Também eliminaria alguns benefícios para funcionários do judiciário e criaria um tribunal disciplinar de cinco pessoas, o que os críticos argumentam ser insuficiente para supervisionar um judiciário de 50.000 membros.

O QUE VEM A SEGUIR?

A reforma recebeu amplo apoio do partido governista Morena e seus aliados, que durante as eleições de junho passado garantiram uma maioria absoluta de dois terços no Congresso e estão a uma cadeira da maioria absoluta no Senado.

Agora, será votado em congressos estaduais, onde a coalizão governante tem os votos para vê-lo passar. A reforma entrará em vigor assim que for publicada no diário oficial do México.

Há alguma especulação no México de que a Suprema Corte poderia tentar bloquear a reforma, embora ainda não esteja clara a legalidade de tal medida.

COMO OS JUÍZES SERÃO ELEITOS?

As eleições serão realizadas em junho de 2025 para substituir a maioria dos juízes, com eleições para o restante em 2027.

Vários candidatos por função serão indicados pelos poderes executivo, legislativo e judiciário do México antes de serem selecionados por um comitê técnico.

Os oponentes disseram que o alto número de cargos em votação — cerca de 282 candidatos competindo por até 39 funções — dificultará que os cidadãos estejam bem informados.

POR QUE OS EUA E O CANADÁ SÃO CONTRA?

Os Estados Unidos, principal parceiro comercial do México, disseram que a reforma representa “um grande risco” para a democracia mexicana, argumentando que ela politizaria o sistema judiciário e o tornaria mais vulnerável à influência do crime organizado.

O Canadá, segundo maior parceiro comercial do México, também disse que os investidores estão preocupados que isso possa trazer instabilidade.

Os dois países, que recebem cerca de 86% das exportações do México, fazem parte do pacto de livre comércio USMCA da América do Norte com o México. Sob o pacto, os países são obrigados a cumprir com resoluções rápidas para conflitos trabalhistas. REUTERS

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