
O que o arroto da carne bovina tem a ver com o aquecimento global? A pecuária ainda é a principal fonte de gases de efeito estufa do Brasil. Mas já existem técnicas capazes de reduzir esse efeito e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade. Desenvolvido na Amazônia, o sistema Guaxupé reduz a produção de metano, gás emitido pelos arrotos e peidos do gado. Entenda mais abaixo. A técnica desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi considerada uma alternativa que alia sustentabilidade e rentabilidade, disse Ricardo Abramo, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados e do Instituto de Energia e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) nesta segunda-feira no podcast O10. O herói deste sistema é o amendoim, mas não é o que comemos: é o amendoim forrageiro, que funciona como erva. Também ajuda a reduzir o uso de pesticidas na agricultura. Porque torna o solo mais nutritivo e dificulta o crescimento de ervas daninhas. No entanto, o cultivo não pode ser utilizado em todas as áreas. Necessita de solo muito úmido para seu crescimento. O investimento inicial para o produtor também pode ser alto, já que a planta é rara de ser encontrada e demora mais para ser desenvolvida, explica Daniele Lambertucci, vice-chefe de transferência de tecnologia da Embraer. Amendoim Forrageiro Embrapa revela como funciona o Sistema Guaxupé O sistema Guaxupé é composto por quatro pilares. Veja o que são abaixo. ➡️Diversidade inteligente de espécies forrageiras ou gramíneas: Plantar a pastagem certa para cada tipo de solo da propriedade. “Você sempre tem uma área baixa, que é molhada, uma área alta, que é seca e quando você usa diferentes tipos de grama você diminui a chance de erro”, explica o pesquisador. Além disso, ele afirma que quando se planta apenas uma variedade, há maior risco de pragas ou doenças estragarem a lavoura. Quando há diversidade, algumas espécies conseguem resistir mantendo a produtividade. ➡️Autossuficiência em nitrogênio com amendoim cultivado: O nitrogênio é o principal nutriente do solo para manter pastagens produtivas. O amendoim forrageiro fixa o nitrogênio da atmosfera, que é rico em proteínas, no solo. Esse processo também auxilia no aumento do peso do gado. ➡️ZERO TOLERÂNCIA COM ERVAS Daninhas: Os pecuaristas devem sempre manter as pastagens limpas, não permitindo o crescimento de plantas invasoras. ➡️Pastagens bem manejadas e gado bem alimentado durante todo o ano: Para isso, a fazenda não pode ter mais do que um chefe de fazenda ajudando. “O que causa a degradação das pastagens é a superabundância de gado na propriedade”, disse Lambertucci. Leia também: O que o gelo bovino tem a ver com o aquecimento global? Grama x Leguminosas Existem dois tipos de plantas que podem ser utilizadas em pastagens: gramíneas e leguminosas. 🌱 Gramíneas: São as gramíneas que pensamos quando pensamos em pastagens, que possuem folhas finas. Acumulam carbono e produzem massa rapidamente, mas com menos nutrientes. Capim Forrageiro Divulgação Embrapa 🌱Leguminosas: Não são cenouras e batatas, mas um tipo de planta com folhas largas. Também existem árvores que são limões. Mais nutritivo para animais desta categoria. Amendoim forrageiro novo tem maior proteína e produtividade em três biomas Arquivo/Embrapa As leguminosas contêm bactérias fixadoras de nitrogênio em suas raízes, que permitem a transferência de nitrogênio da atmosfera para o solo. Esse processo é chamado de “adubação verde” porque, ao mesmo tempo que nutre a terra, não há necessidade do uso de fertilizantes químicos como a uréia. Outro ponto positivo é que também é nutritivo para o gado, ele ganhará peso mais rápido e será abatido mais cedo. Como resultado, as emissões de gases com efeito de estufa por quilograma de animal são reduzidas. O amendoim forrageiro também contém compostos que afetam o processo de ruminação e reduzem a produção de metano. Ao produzir menos metano, o gasto energético do animal também diminui, aumentando a sua produtividade. Outra característica do amendoim forrageiro é que ele se espalha pelo solo, não deixando espaço para o mato. Ao não lidar com plantas invasoras, os criadores usam menos pesticidas. “Com o tempo, os produtores gastam menos na manutenção das pastagens com herbicidas, tornando a pecuária mais limpa e menos agressiva ao meio ambiente”, disse o pesquisador. Leia mais: Brasil sem tilápia? Entenda o que significa a inclusão de peixes na lista de espécies invasoras O sistema Guaxupé, fora da Amazônia, surgiu depois que vários produtores do Acre relataram que suas pastagens estavam afogadas. O problema é conhecido como Síndrome da Morte do Braquiarão, porque a erva mais utilizada para pastagem é a Brachiaria. Na pesquisa descobriu-se que o feijão é mais resistente a solos úmidos como o amazônico. O sistema funciona em ambientes semelhantes, como o litoral brasileiro, a Mata Atlântica e algumas áreas do Cerrado. Porém, os produtores que decidem começar a usar o amendoim precisam de paciência: o desenvolvimento é lento e os custos iniciais são elevados. Isso porque são poucos os locais que fornecem sementes e a colheita ainda é manual. Leia mais: Pecuária que salva, cacau que restaura: Como o dinheiro do clima chega ao campo Quanto custa conter o aquecimento global e apoiar a sustentabilidade rural O que a pecuária tem a ver com o desmatamento na Amazônia? Guardiões do campo local: como os pequenos pastores estão revitalizando os pampas


















