CIDADE DO MÉXICO (Reuters) – A Câmara Baixa do Congresso do México aprovou nesta quarta-feira uma medida para abolir a maioria dos órgãos autônomos que regulam alguns setores econômicos e garantem a transparência do governo, uma reforma que pode piorar a tensão com os EUA e afetar as classificações de crédito.
A medida está entre as reformas constitucionais apresentadas em fevereiro pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador, e apoiada pela atual presidente Claudia Sheinbaum, que visam cortar gastos públicos através da centralização do aparato estatal.
Os legisladores da Câmara dos Deputados votaram 347 a favor, 128 contra, e nenhuma abstenção, após horas de debate ocasionalmente acalorado, com algumas vaias e insultos pessoais trocados.
Uma votação final sobre as objeções aos detalhes da medida é esperada na quinta-feira, antes de ela seguir para o Senado, onde o partido no poder, Morena, detém uma grande maioria.
A reforma propõe o desmantelamento de agências autónomas, como o órgão de fiscalização antitrust Cofece, o regulador de telecomunicações IFT, o regulador de energia CRE, o regulador de hidrocarbonetos CNH e o gabinete de informação pública e protecção de dados INAI.
As suas funções seriam assumidas por outros órgãos governamentais, incluindo o gabinete oficial de estatísticas, a autoridade eleitoral e os ministérios do governo.
Analistas alertam que a reforma pode potencialmente levar a conflitos com os Estados Unidos e o Canadá, uma vez que o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) exige um regulador das telecomunicações, especialmente porque o pacto deverá ser revisto em meados de 2026.
Sheinbaum disse que a “independência técnica” dos órgãos autônomos seria mantida e que disposições especiais garantiriam o cumprimento dos requisitos do USMCA.
Embora os defensores afirmassem que uma governação mais simplificada pouparia cerca de 5 mil milhões de dólares anualmente e reduziria a corrupção, os críticos argumentaram que retiraria o financiamento de projectos importantes, reduziria a transparência e a supervisão e concentraria o poder no executivo.
Alguns analistas também alertaram que a medida poderá desencadear potenciais descidas na classificação de crédito do México, que tem agora classificações de grau de investimento da Fitch, Moody’s e S&P.
A reforma “implica uma deterioração adicional do quadro institucional do México, o que aumenta a probabilidade de descidas na classificação de crédito”, disse Gabriela Siller, diretora de análise económica do Grupo Financiero BASE.
A agência de classificação Moody’s rebaixou recentemente a perspectiva do México de estável para negativa, citando o enfraquecimento institucional e político que ameaça a economia e as contas do governo após uma controversa revisão judicial. REUTERS