SÃO PAULO – Liderada pelo sitiado ex-presidente Jair Bolsonaro, a direita política do Brasil se manifestará pela “democracia e liberdade” em 7 de setembro em meio a uma disputa pela liberdade de expressão que viu X, sua plataforma social preferida, suspensa no país.
O Sr. Bolsonaro convocou a manifestação para a maior cidade da América Latina, São Paulo, no Dia da Independência – que será comemorado na capital Brasília com um desfile supervisionado pelo presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
Em um vídeo, o Sr. Bolsonaro pediu aos manifestantes que comparecessem em massa vestidos de verde e amarelo — as cores da bandeira brasileira, mas também cooptadas por seus apoiadores.
“Não adianta comemorar nossa independência se estamos privados de liberdade”, disse ele na postagem no Instagram.
No comício, o Sr. Bolsonaro espera mostrar sua influência política um mês antes das eleições municipais no país profundamente dividido.
Ele deixou o cargo há quase dois anos, após uma derrota eleitoral apertada para o arquirrival Sr. Lula.
Isso levou os chamados bolsonaristas a invadirem o palácio presidencial, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro de 2023, pedindo que os militares destituíssem Lula e alegando, sem provas, que a eleição foi roubada.
O Sr. Bolsonaro, apelidado de “Trump Tropical”, está sob investigação por uma suposta tentativa de golpe devido a esses eventos.
Ditador vestido de toga
O Sr. Bolsonaro e a extrema direita estão em guerra com o juiz Alexandre de Moraes, que presidiu o tribunal eleitoral do TSE quando este proibiu o ex-presidente de concorrer a um cargo até 2030 por suas tentativas de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro.
O juiz Moraes, que assumiu o papel de um cruzado antidesinformação, está liderando várias outras investigações sobre o Sr. Bolsonaro e foi ele quem ordenou a suspensão de X no Brasil por violar leis locais.
A direita odeia o juiz Moraes e o acusa de censura e abuso de poder.
O Sr. Bolsonaro descreveu sua decisão contra X como um “golpe à nossa liberdade e segurança jurídica, que afastará investidores estrangeiros e terá consequências adversas em todas as esferas da vida pública no Brasil”.
O Sr. Lula se manifestou em apoio à luta contra as “notícias falsas”.
A manifestação de 7 de setembro foi convocada antes do juiz Moraes bloquear a plataforma anteriormente conhecida como Twitter.
Um dos organizadores, o pastor evangélico Silas Malafaia, pediu que os seguidores comparecessem em grande número para exigir “a remoção do ditador de toga Alexandre de Moraes”.
Membros da oposição de direita no Senado brasileiro disseram que entrarão com o pedido de impeachment do juiz Moraes na semana que vem — uma medida bem recebida pelo proprietário da X, Elon Musk.
O Sr. Bolsonaro viajou bastante pelo país nos últimos meses para apoiar aliados que buscarão cargos nas eleições locais de outubro.
No dia 7 de setembro, “veremos a verdadeira dimensão do bolsonarismo”, disse à AFP o pesquisador de ciência política Geraldo Monteiro, da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), em referência ao comparecimento.
Em seu apelo nas redes sociais, o Sr. Bolsonaro pediu aos apoiadores que “não participassem das cerimônias de independência organizadas pelo governo”.
Em fevereiro, um protesto pró-Bolsonaro também em São Paulo reuniu cerca de 185.000 pessoas, segundo estimativa de pesquisadores da Universidade de São Paulo.
Outra no Rio em abril reuniu menos.
O comício de 7 de setembro está previsto para começar às 17h (14h00 GMT), enquanto em Brasília, o Sr. Lula deve comparecer a um desfile acompanhado por 30 atletas militares que competiram nos Jogos Olímpicos de Paris. AFP