SÃO PAULO – Novos detalhes sobre os últimos momentos de um avião operado pela transportadora regional brasileira Voepass podem ser revelados em um relatório preliminar previsto para ser divulgado na sexta-feira, enquanto os investigadores avaliam possíveis fatores contribuintes, como formação de gelo e manutenção.
O relatório do Centro de Pesquisa e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) deve apresentar um histórico do voo ATR 72-500 de 9 de agosto que matou 62 pessoas ao cair em Vinhedo, cerca de 80 km (50 milhas) a noroeste de São Paulo, disseram especialistas do setor.
Um relatório final da investigação liderada pelo Brasil sobre as causas da tragédia pode sair um ano após o acidente do voo com destino ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
Acidentes aéreos geralmente ocorrem devido a múltiplos fatores.
Alguns especialistas citaram gelo nas asas como um possível contribuinte para o acidente, porque avisos de alerta foram emitidos naquele dia para gelo severo na região. Uma revisão de equipamento do avião em 8 de agosto vista pela Reuters não sinalizou nenhum problema relacionado aos dispositivos de degelo.
A Aviation Herald, uma publicação de segurança, relatou que o avião turboélice, que usa motores de turbina para girar as hélices que movem a aeronave, havia retornado ao serviço apenas um mês antes do acidente, após ter sido danificado em uma colisão com a cauda em março.
O ATR-72 esteve envolvido em vários casos em que os pilotos perderam o controle após o acúmulo de gelo, incluindo um em que um avião estolou em 2016 na Noruega, mas o piloto recuperou o controle. Em 2010, o gelo e o erro do piloto foram responsabilizados por um acidente do voo 883 da Aero Caribbean em Cuba, matando 68 pessoas.
O gravador de dados de voo (FDR) do avião deve indicar se o sistema de degelo da aeronave foi ativado, disse Greg Feith, ex-investigador do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA que investigou a queda de um ATR-72 em Indiana em 1994.
O FDR também pode indicar a presença de alertas relacionados à formação de gelo e à velocidade de estol, acrescentou Eder Luiz Oliveira, professor de manutenção de aeronaves na Unesp, no estado de São Paulo.
INVESTIGANDO CANCELAMENTOS
Segundo dados da FlightAware, apenas dois dos 190 voos do ATR 72 operados no Brasil em 9 de agosto foram cancelados, ambos pela Voepass, quarta maior companhia aérea do país em participação de mercado. Pelo menos 13 aeronaves ATR diferentes decolaram ou pousaram na região do acidente.
Apesar do alerta de formação de gelo, um piloto de ATR da companhia aérea brasileira Azul disse que os aviadores não foram orientados a evitar a área em 9 de agosto, mas tomaram precauções.
Aeronaves ATR geralmente têm “botas” de borracha infláveis instaladas nas asas para ajudar a remover o gelo acumulado.
As condições climáticas e a formação de gelo também devem ser discutidas em uma audiência do comitê do Congresso sobre o acidente, com convidados incluindo altos executivos de companhias aéreas, investigadores e representantes da fabricante de aviões ATR, uma joint venture entre a europeia Airbus e a italiana Leonardo.
“Nossa investigação inicial mostra que o gelo tem sido um problema para esta aeronave, então queremos saber quantos aviões sobrevoaram a área e em que horário”, disse o deputado Nelsinho Padovani, um dos principais membros do comitê.
A Voepass disse em um comunicado que todos os sistemas da aeronave ATR 72-500 estavam totalmente operacionais e que a empresa segue todas as regulamentações.
O CENIPA não quis comentar antes de sexta-feira.
O acidente atraiu a atenção global depois que imagens dos últimos momentos do avião em um suposto parafuso plano circularam nas redes sociais.
Três policiais que trabalharam na identificação das vítimas do voo disseram que o local do acidente forneceu pistas sobre os últimos momentos do voo: passageiros curvados sobre as pernas, como se estivessem se preparando para uma emergência, enquanto uma mãe abraçava seu filho.
O avião parado caiu sem qualquer movimento para frente, danificando apenas uma casa no complexo habitacional onde pousou, disse à Reuters Mauricio Freire, chefe do Departamento de Identificação de São Paulo.
“Foi a primeira vez que vi um avião atingir o solo daquele jeito, ele não deslizou”, disse Freire. REUTERS