
Os internautas, que apoiam a relação entre patrão e empregado nas novelas, têm levantado polêmica em torno do termo, que se refere a um vínculo afetivo ou sexual entre dois homens. As cenas entre os vilões Mavi e Iber na novela “Mania de Voke” chamaram a atenção do público. E não é como se isso evocasse um sentimento de desdém pelas ações dos personagens. Mas sim, pela forte harmonia entre os dois. Nas redes sociais, muitos internautas esperam formar um casal. E há quem aponte que o que acontece entre patrão e empregado é “broderagem”. A palavra é uma gíria brasileira, que vem da palavra inglesa para “irmão” e é usada “tanto para comentar um vínculo afetivo entre homens quanto, em algumas ocasiões, a relação sexual entre eles, mesmo que se digam heterossexuais”, explica o psiquiatra. Carmita Abdo, Coordenadora do Programa de Estudos da Sexualidade da Faculdade de Medicina da USP e autora do livro “Sexo No Quotidiano”. Relacionamento de Mavi e Iberê, em ‘Mania de Você’, é visto como taciturno pelos internautas Reprodução/Globo Em 2024, o termo já foi utilizado para comentar a relação entre os personagens em pelo menos dois filmes. Um deles foi “Deadpool e Wolverine”. Os atores Ryan Reynolds e Hugh Jackman, que dão vida aos personagens, são amigos há quase 20 anos. E o clima de bromance entre eles gerou piadas durante a divulgação do filme. (Derivado da combinação das palavras inglesas “brother” e “romance”, a expressão bromance é utilizada para falar de grande intimidade emocional entre dois amigos, sem contexto sexual). Até julho, quando o filme foi lançado, muitos fãs estavam convencidos de que uma grande sequência de luta do filme, que se passa dentro de um carro, era uma cena de sexo entre os protagonistas. O mesmo tom foi visto no filme “Rivals” com os personagens de Art e Patrick. Os tenistas fictícios, ex-melhores amigos interpretados por Mike Feist e Josh O’Connor, competem pelo amor do personagem de Zendaya. Além de mostrar uma dinâmica entre sexo e poder, o filme traz tensão sexual para todos os lados desse triângulo amoroso. Mas a ampliação não é uma linguagem específica para o trabalho dramático. Também é muito usado na vida real. * Cabe dizer aqui também que, embora o termo tenha ganhado força com Mavi e Iberê, não significa que os dois tenham relação sexual. Pelo menos por enquanto, o relacionamento deles nada mais é do que carinho e parceria mútuos. E claro, tudo sempre pode mudar nas cenas dos capítulos posteriores. A cena de “Deadpool e Wolverine” mostra os heróis lutando em um carro. Alguns fãs apontaram que a sequência é uma cena de sexo entre eles. Reprodução Broderagem não configura homossexualidade O psicólogo e sexólogo Caio Graneiro explica que, por não ser um termo acadêmico, não há uma compreensão muito clara do comportamento. “Mas, em geral, usamos para falar de dois homens que não são abertamente gays e que trocam afeto”. Esse carinho pode ter um significado amigável ou sexual. E Caio explica que essa troca, no seu sentido sexual, não configura homossexualidade. Porque existem três pilares importantes quando se pensa na sexualidade: o comportamento, a identidade e o desejo da pessoa. Comportamento é o que uma pessoa faz – como beijar ou fazer sexo com pessoas do mesmo sexo. O campo do desejo é a direção dessa pessoa – mas ela pode ter desejo e não canalizá-lo. Então, o comportamento dele não é. E a terceira área é a identidade, que é como a pessoa se vê dentro desse sexo. Caio destaca que, sozinho, nenhum desses comportamentos define o que uma pessoa é ou não é. Pode ser que a pessoa tenha desejo, já tenha feito sexo com outro homem, mas a sua identidade não seja homossexual. “A autodeterminação nesse sentido é o mais importante, porque só o indivíduo pode dizer sobre sua própria sexualidade”. Carmita Abdo salienta que desde o tempo de Alfred Kinsey – sexólogo e biólogo norte-americano, fundador do Instituto Kinsey de Investigação sobre Sexo, Género e Reprodução – “tornou-se muito claro que grande parte da população está esporadicamente, esporadicamente relacionada. Pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto”. “E há uma gradação entre absolutamente heterossexual e absolutamente homossexual que Keynes divide em seis possibilidades”, explica Carmilla. A escala de Kinsey varia de 0 a 6 e descreve as pessoas como: exclusivamente heterossexual principalmente heterossexual, apenas ocasionalmente homossexual principalmente heterossexual, embora frequentemente homossexual bissexual principalmente homossexual, embora muitas vezes heterossexual apenas homossexual Sexualmente assexuado “portanto, existem possibilidades intermediárias, e isso não significa A pessoa que se assumiu gay ou heterossexual e tem permissão para vivenciar ou mesmo decidir quais opções gostaria com mais frequência. Livre, consensual e sem preconceitos, a cena carmita também é o eu – Enfatiza a importância de uma vida livre,. relacionamento consensual sem preconceitos. “As pessoas devem ser livres para estabelecer relacionamentos entre si, desde que sejam consensuais, que podem ir da amizade ao sexo, independentemente da responsabilidade perante a sociedade. Portanto, é muito importante que não exista autoconflito.” “Porque às vezes a sociedade não aceita isso. É a própria pessoa que não se aceita como tal”, destaca. “Então, sim, pode ser alguém que tem tendências homossexuais, mas que não está aceitando. E em última instância a necessidade de uma relação mais íntima, íntima e erótica com outra pessoa do mesmo sexo, mesmo que ela não entenda que você está agindo dessa forma e no seu entendimento, você está negando sistematicamente que gosta de homossexual.” Machismo e a ausência de afeto entre homens é um fator importante O que Caio aponta é o quanto a taciturnidade pode inibir o afeto entre dois homens “Por medo de ser gay ou de ser percebido como gay, ou de pensar que o carinho entre dois homens é sempre sexual, os homens muitas vezes. sofrem com o machismo que as impede de demonstrar carinho”, afirmou a psicóloga. Tanto que ainda não existe uma palavra semelhante para as mulheres, pois é muito comum que elas demonstrem carinho desde a infância dando as mãos, abraçando e demonstrando outras formas. de carinho. “A forma como olhamos para os homens e o carinho é muito diferente entre as mulheres e o carinho. E justamente porque para as mulheres o carinho é mais permitido desde a infância, não há necessidade de criar um rótulo quando duas mulheres são próximas”, afirma. Ela ressalta ainda que “dois homens não deveriam demonstrar afeto”. . Porque os homens foram tão encorajados a nunca demonstrar afeto, que vemos dois homens trocando afeto como se fosse uma característica do sexo.”


















