Ação policial contra o tráfico de drogas deixa um morto na zona oeste de Manaus A defesa da família de João Paulo Maciel, de 19 anos, morto durante uma operação policial na Vila da Prata, na zona oeste de Manaus, em outubro deste ano, afirma que o jovem foi morto pela polícia. Moradores tiraram fotos do momento em que um suspeito se aproximou e enquanto os policiais deixavam o local com um corpo. ➡️Segundo informações de Rhonda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam), a polícia foi até o Beco Arthur Virgílio após denúncia anônima sobre venda de drogas por criminosos armados. Os soldados disseram ter atirado nos traficantes, que fugiram pelo quintal da residência e retaliaram o ataque. Em declarações à Red Amazonica, Doresi Queiroz de Oliveira Líder, advogada que representa a família de João Paulo Maciel, classificou o episódio como “uma afronta ao Estado democrático de direito” e disse que a execução foi levada a cabo pelos agentes envolvidos. “João Paulo foi capturado, algemado e levado para um arranha-céu no beco. Testemunhas dizem que ele foi torturado. Poucos minutos depois, a polícia voltou com o corpo enrolado em um lençol branco. Foi uma sentença de morte, João Paulo foi condenado à morte”, explicou o advogado. Doresi disse que o nome “Ezequiel” foi registrado nos prontuários do hospital, reforçando ainda mais as suspeitas de que João Paulo foi confundido com outra pessoa. Os advogados suspeitam que a mudança de nome pode ter sido uma tentativa de dificultar a identificação, já que a família só conseguiu identificar o corpo após buscar suas próprias informações. Quanto ao relatório do Primeiro-Ministro, que indicava que João Paulo tinha drogas e uma arma, a defesa negou veementemente. “Ele foi contatado por amigos que jogavam free fire. Ele era usuário de maconha, mas isso não o torna traficante. Armas e drogas foram encontradas em outras casas, a polícia fez batidas e culpou-o injustamente”, explicou. O advogado também criticou o tratamento dispensado à família após o ocorrido no 19º Distrito Integrado de Polícia (DIP) e destacou que o caso já foi denunciado ao Ministério Público do Amazonas (MPAM). “Estamos recolhendo testemunhas e provas. Há vídeos que mostram que não houve troca de tiros, como alegou o primeiro-ministro. João Paulo foi entregue. No Brasil não existe pena de morte, mas ele foi executado pela Rocam”, concluiu o advogado. Por meio de nota, a Polícia Militar informou que já implementou procedimento para apurar ações policiais durante ocorrências envolvendo grupos de Ostensivos Rondas Cândido Mariano (Rocam). Leia também: 60 mortos em 10 anos na ação policial mais mortal no AM; Relembre quem foram os membros do CV do AM mortos na megaoperação no RJ; Ver lista Caso Rhonda Ostensiva Segundo informações de Cândido Mariano (Rocam), a polícia foi ao beco após denúncia anônima sobre venda de drogas por criminosos armados. A polícia solicitou socorro e iniciou uma perseguição. Quando eles entraram em uma passagem próxima a uma residência, disse a polícia, foram alvejados. No entanto, moradores e testemunhas oculares discordam da versão policial. Vídeo gravado por uma testemunha mostra agentes se aproximando de um homem sem camisa. O suspeito colocou a mão na cabeça e foi revistado sem qualquer reação. Depois, pelo menos um policial acompanhou o homem até um corredor próximo a uma residência enquanto um grupo de cerca de seis policiais permanecia no local. Momentos depois, mais dois agentes entraram pela mesma passagem lateral e voltaram com o corpo enrolado em um lençol. A família afirma que o homem abordado é João Paulo. João Paulo Maciel, 19 anos, morto em combate pela Polícia do Amazonas Divulgação O que diz a família Fernando Marques dos Santos, pai do jovem, diz que João Paulo não estava envolvido com tráfico de drogas ou porte de armas. Ele acusou a polícia de fingir a presença de drogas e armas no local para justificar a operação. “Meu filho nunca vendeu drogas, meu filho nunca teve arma. O pai contou ao g1 como era sua rotina com João Paulo, que trabalhava com ele como ajudante de pedreiro desde os 12 anos, e destacou que o filho gosta de visitar o local onde foi morto, conversar com amigos e jogar jogos online. “Ele acorda às 5 da manhã e sai para trabalhar comigo. Ele e o irmão gêmeo sempre me ajudavam. Naquele dia, ele saiu comigo, chegou em casa, tomou banho e disse: ‘Pai, vou brincar lá e já volto’. Ele nunca mais voltou”, explicou Fernando. Morte provoca protestos Um dia após a morte de João Paulo, familiares e amigos organizaram uma manifestação na Avenida Brasil, no bairro Compensa, na zona oeste. Durante a manifestação, manifestantes carregaram cartazes e gritaram por justiça, atearam fogo em lixo, madeira e pneus e bloquearam a Avenida Brasil. Na época, o secretário do Departamento de Segurança Pública, coronel Vinicius Almeida, anunciou que levaria seguranças públicas ao Rio de Janeiro para encerrar uma manifestação em homenagem a um traficante de Manaus morto em uma megaoperação. A defesa da família do jovem contesta esta versão e afirma que o ato foi um pedido legítimo de justiça e que a resposta do Estado foi desproporcional e violenta. “Foi um protesto pacífico, onde os moradores seguravam cartazes. Não houve tumultos, nem vandalismo. Havia crianças e a polícia abriu fogo sem saber quem era. Foi uma ação hostil e excessiva”, disse a advogada Thayne Costa. Mãe da vítima e outros parentes buscam justiça durante protesto Bruna Pinheiro/Divulgação Família de jovem morto em ação policial protestos na Avenida Manaus


















