BELÉM, Brasil – Com a cidade de Belém a pairar sobre a vasta e exuberante Amazónia e às margens do Rio Guamá, o Brasil é pioneiro num modelo económico concebido para ajudar a população local a lucrar com uma floresta tropical saudável.
Este ano, o governo do estado do Pará anunciou um programa de investigação e desenvolvimento que visa ajudar os residentes locais a transformar produtos florestais, como o açaí e a castanha-do-pará, em produtos para os mercados globais, em vez de derrubar árvores para o gado ou para a mineração.
Para o Brasil, onde Belém acolhe a cimeira internacional do clima COP30, esta é apenas uma parte do grande plano do Brasil para mostrar ao mundo que pode encontrar formas de proteger a floresta amazónica e garantir empregos e finanças para os seus residentes.
“É nossa intenção que o estado do Pará transforme seus ativos florestais em um novo setor estratégico que transforme a biodiversidade em uma nova economia”, disse o governador do estado do Pará, Helder Barbarulho, à Reuters.
“Isso ajudará a reduzir nossa dependência das indústrias extrativas e emissoras de gases de efeito estufa e apoiará uma economia de baixas emissões que valoriza as florestas vivas.”
O encontro entre o velho e o novo
Em outubro, o governo do estado do Pará abriu um parque de inovação em bioeconomia no valor de 300 milhões de reais (US$ 56,29 milhões) a jusante do mercado ao ar livre de Velopes, em Belém. Os produtos da floresta tropical são vendidos lá desde 1901.
As novas instalações incluem 6.000 metros quadrados de armazém repleto de máquinas onde os empresários partilham conhecimentos, experimentam produtos florestais e criam novos alimentos, sabores e outros produtos que atraem consumidores de todo o mundo.
O chef local Leonardo Souza foi um dos primeiros a utilizar o novo laboratório do parque. Ele disse que ajudou a expandir a produção de sal artesanal aromatizado com ervas amazônicas de 60 potes para cerca de 1.000 potes por dia.
“Trabalhamos com 42 famílias fornecendo ervas. Agora serão cerca de 200 famílias”, disse.
A ideia de uma bioeconomia robusta baseia-se nos já sólidos alicerces do estado do Pará.
De acordo com um estudo de 2019 do BID, The Nature Conservancy e da gigante brasileira de cosméticos Natura, 30 cadeias de valor de produtos florestais nos estados brasileiros geram renda local de R$ 4,24 bilhões, aproximadamente igual a R$ 4,25 bilhões provenientes da pecuária.
“Este não é um nicho de mercado. Tem potencial para ser um mercado muito forte”, disse Paula Caballero, diretora do grupo conservacionista para a América Latina.
A Natura compra ingredientes como óleo de cacau, murumuru e pataua da Amazon para sua linha de produtos de saúde e beleza.
Carlos Nobre, um cientista brasileiro do sistema terrestre, disse que embora os negócios de bioeconomia representem atualmente uma pequena parcela da economia geral do Brasil, eles podem pagar de três a sete vezes mais e empregar mais pessoas do que a agricultura ou a pecuária de soja.
boom do açaí
Um dos produtos amazônicos mais amplamente disponíveis é o açaí, uma fruta rica em antioxidantes. Segundo o governo brasileiro, é popular como alimento saudável em países como os Estados Unidos, e o mercado deverá crescer de US$ 1,23 bilhão em 2024 para US$ 3,09 bilhões em 2032.
Todas as noites, barcos fluviais descarregam alqueires de açaí no mercado Velopesso, em Belém, para onde são embarcados para todo o Brasil e exterior.
Damien Binois (35) disse que começou seu próprio negócio, “NOSSA!”. AÇAÍ provou açaí pela primeira vez e foi influenciado por ele em 2012, quando veio da França para o Brasil ainda estudante.
Atualmente exporta para França, Espanha, Irlanda e Bélgica, abastece-se de 150 produtores locais e presta assistência técnica a 50 empresas.
Ele pretende abrir uma grande fábrica de processamento em Barcarena, cidade a duas horas de Belém, e empregar 40 pessoas no próximo ano, com meta de 200 até 2030. Até lá, a empresa utiliza o laboratório para desenvolver novos produtos, como o açaí em pó.
“A renda dos produtores de açaí é muito boa porque os preços aumentaram significativamente devido ao crescimento do mercado”, disse Binoa.
O açaí custa cerca de US$ 11 por pote, contra US$ 3 para US$ 3,50 há cinco anos.
plantio de café e árvores
Sara Sampaio, diretora da ONG Amazon Agroflorestal, está ajudando pequenos agricultores a cultivar café orgânico no sul da Amazônia, reflorestando terras ao longo do arco de desmatamento aberto pela Rodovia Transamazônica na década de 1970.
Centenas de imigrantes se estabeleceram na área, atraídos por novos empregos em terras recém-inauguradas. Mas quem experimentou cultivar café lá aprendeu que era mais fácil cultivar os grãos procurados pelos amantes do café em todo o mundo à sombra das árvores nativas.
Quando o laboratório foi inaugurado, Sampaio disse ter visto uma oportunidade de expandir o negócio com novos tipos de embalagens que pudessem manter os grãos frescos, além de novos blends para cafés premium.
Hoje, uma cooperativa de 234 famílias produz blends de café premium que são vendidos nos supermercados brasileiros e exportados internacionalmente.
“Fornecemos gratuitamente preparo de solo, café e mudas nativas e assistência técnica”, disse Sampaio.
A tradição encontra a inovação
A abordagem do Brasil à bioeconomia pode ser nova. No entanto, os vendedores do mercado de Velopesso vendem produtos florestais há mais de um século.
Bette Queirosinha, 72 anos, é vendedora de ervas de quinta geração. Ela obtém plantas de comunidades ribeirinhas e usa o conhecimento indígena para criar tinturas e até mesmo “Viagra natural” para doenças.
“Existem mais de 1.000 ervas, cada uma com um significado e cada uma resolvendo um problema”, disse ela.
Alison Charles, que vende farinha de mandioca com a mãe, disse que ao alavancar a tradição, o valor dos produtos da Amazon supera o preço.
“Evocamos memórias”, disse ele. “É gratificante.” Reuters


















