PEQUIM – Enquanto os norte-americanos votavam numa das eleições presidenciais mais apertadas das últimas décadas, a China preparava-se para um resultado que – independentemente de quem ganhasse – significaria mais quatro anos de amarga rivalidade entre superpotências em questões de comércio, tecnologia e segurança.
Estrategistas em Pequim disseram que, embora esperassem uma retórica mais inflamada e tarifas potencialmente paralisantes do candidato republicano Donald Trump, alguns disseram que ele poderia ser movido pelo pragmatismo e pela disposição de fechar acordos sobre comércio e Taiwan.
Da candidata democrata Kamala Harris, Pequim esperava previsibilidade e uma continuação da abordagem do presidente dos EUA, Joe Biden, centrada no trabalho com aliados em questões relacionadas com a China, como restrições tecnológicas, Taiwan e conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente.
Qualquer um dos resultados provavelmente não causará uma mudança, disseram os analistas, dada a amplitude da rivalidade geopolítica com Pequim e o quão politicamente letal até mesmo a percepção de estender a mão à China é em ambos os lados do corredor em Washington.
“Independentemente de quem seja eleito, as tensões estruturais são uma realidade inegável e tornaram-se um consenso bipartidário amplamente aceite nos EUA”, disse o Dr. Henry Huiyao Wang, do centro de reflexão Centro para a China e a Globalização, com sede em Pequim.
As políticas chinesas das administrações Trump ou Harris “provavelmente serão estrategicamente consistentes”, afirmaram os especialistas da Universidade de Pequim, Wang Jisi, Hu Ran e Zhao Jianwei, num artigo na revista Foreign Affairs.
“Como presidentes, ambos os candidatos apresentariam desafios e desvantagens para a China, e nenhum deles parece querer um grande conflito militar ou cortar todos os contactos económicos e sociais”, afirmaram, acrescentando que, por causa disso, “é improvável que Pequim tenha uma preferência clara.”
As pesquisas de opinião mostram que Trump, 78, e Harris, 60, estão praticamente empatados. O vencedor poderá só ser conhecido dias após a votação, embora Trump já tenha sinalizado que tentará lutar contra qualquer derrota, como fez em 2020.
Ameaça tarifária de Trump
A maior diferença no que diz respeito à política da China está no comércio, onde Trump propôs tarifas sobre as importações chinesas superiores a 60 por cento e acabando com o estatuto comercial de nação mais favorecida da China.
Essa ameaça, por si só, enervou o complexo industrial da China, que vende produtos no valor de mais de 400 mil milhões de dólares (527 mil milhões de dólares) anualmente aos EUA e centenas de milhares de milhões mais em componentes para produtos que os americanos compram noutros lugares.
Os produtores entrevistados pela Reuters esperavam que as tarifas perturbassem as cadeias de abastecimento e reduzissem ainda mais os lucros chineses, prejudicando empregos, investimentos e o crescimento já em declínio. Uma guerra comercial aumentaria os custos de produção e os preços ao consumidor nos EUA, mesmo que as fábricas fossem realocadas, disseram.
Novas tarifas poderão ser “muito desafiadoras para Pequim, dadas as dificuldades económicas na China”, disse o professor Zhao Minghao, da Universidade Fudan, com sede em Xangai.
Ele acrescentou que Pequim também tem “preocupações mais profundas sobre o futuro do sistema económico e comercial internacional”, devido à proposta de Trump de uma tarifa de 10% sobre todos os bens provenientes de outros países.