LONDRES – A Rússia fará mudanças em sua doutrina sobre o uso de armas nucleares em resposta ao que considera uma escalada ocidental na guerra na Ucrânia, disse o vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov, citado pela mídia estatal, no domingo.
A doutrina nuclear existente, estabelecida em um decreto do presidente Vladimir Putin em 2020, diz que a Rússia pode usar armas nucleares no caso de um ataque nuclear por um inimigo ou um ataque convencional que ameace a existência do estado.
Alguns analistas militares russos mais radicais pediram que Putin reduzisse o limite para o uso nuclear a fim de “deixar os inimigos da Rússia no Ocidente sóbrios”.
Putin disse em junho que a doutrina nuclear era um “instrumento vivo” que poderia mudar, dependendo dos eventos mundiais. Os comentários de Ryabkov no domingo foram a declaração mais clara até agora de que mudanças seriam de fato feitas.
“O trabalho está em estágio avançado e há uma clara intenção de fazer correções”, disse Ryabkov, citado pela agência de notícias estatal TASS.
Ele disse que a decisão está “conectada com o curso de escalada dos nossos adversários ocidentais” em relação ao conflito na Ucrânia.
Moscou acusa o Ocidente de usar a Ucrânia como um representante para travar uma guerra contra ela, com o objetivo de infligir uma “derrota estratégica” à Rússia e destruí-la.
Os Estados Unidos e seus aliados negam, dizendo que estão ajudando a Ucrânia a se defender contra uma guerra de agressão de estilo colonial pela Rússia.
‘LINHAS VERMELHAS’
Putin disse no primeiro dia da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, que qualquer um que tentasse impedir ou ameaçar sofreria “consequências que nunca enfrentou em sua história”.
Desde então, ele emitiu uma série de outras declarações que o Ocidente considera ameaças nucleares e anunciou a implantação de armas nucleares táticas russas na Bielorrússia.
Isso não impediu os EUA e seus aliados de aumentar a ajuda militar à Ucrânia de maneiras que eram impensáveis quando a guerra começou, incluindo o fornecimento de tanques, mísseis de longo alcance e caças F-16.
A Ucrânia chocou Moscou no mês passado ao invadir sua fronteira ocidental em uma incursão de milhares de tropas que a Rússia ainda está lutando para repelir.
O presidente Volodymyr Zelenskiy disse que a operação zombou das “linhas vermelhas” de Putin. Ele também está fazendo lobby pesado para que os EUA permitam que ele use armas ocidentais avançadas para atingir alvos bem no interior da Rússia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse em uma entrevista publicada no domingo que o Ocidente estava “indo longe demais” e que a Rússia faria de tudo para proteger seus interesses.
Ryabkov não disse quando a doutrina nuclear atualizada estaria pronta. “O tempo para concluir este trabalho é uma questão um tanto difícil, dado que estamos falando sobre os aspectos mais importantes para garantir nossa segurança nacional”, disse ele.
A Rússia tem mais armas nucleares do que qualquer outro país. Putin disse em março que Moscou estava pronta para a eventualidade de uma guerra nuclear “de um ponto de vista técnico-militar”.
Ele disse, no entanto, que não via pressa em direção ao confronto nuclear e que a Rússia nunca enfrentou a necessidade de usar armas nucleares na Ucrânia. REUTERS