Poços de íonsCorrespondente Sul-Americano

AFP via Getty Images Uma vista aérea mostra uma casa parcialmente destruída, com um carro balançando no telhado após o rompimento de uma barragem na vila de Bento Rodrigues, Mariana, Brasil, em 6 de novembro de 2015.AFP via Getty Images

Milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos e lamas foram despejados nas comunidades vizinhas à barragem

A mineradora BHP foi considerada responsável pelo rompimento da barragem em 2015 no Brasil, conhecido como o pior desastre ambiental do país, pelo Supremo Tribunal de Londres.

A barragem ruiu, matando 19 pessoas, poluindo o rio e destruindo centenas de casas.

O caso civil, que representa mais de 600 mil pessoas, incluindo civis, governos locais e empresas, valia até 36 mil milhões de libras (48 mil milhões de dólares).

A BHP disse que apelaria da decisão e continuaria a lutar no caso e disse que muitos dos requerentes no caso de Londres já haviam recebido indenização por danos no Brasil.

A barragem nas Marianas, no sudeste do Brasil, era propriedade da Samarco, uma joint venture entre a gigante mineradora Vale e a BHP.

Os advogados dos requerentes argumentaram com sucesso que o julgamento deveria ocorrer em Londres porque a sede da BHP “estava no Reino Unido no momento do rompimento da barragem”.

Uma ação separada contra a segunda controladora da Samarco, a mineradora brasileira Vale, foi movida na Holanda, com mais de 70 mil demandantes.

A barragem foi usada para armazenar rejeitos da mineração de minério de ferro. Quando entra em erupção, libera milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos e lama. A lama flui pelas comunidades, destruindo centenas de casas e envenenando rios.

A juíza Finola O’Farrell disse em sua decisão do Tribunal Superior que continuar a aumentar a altura da barragem quando não era seguro fazê-lo foi a “causa direta e imediata” do colapso da barragem, o que significa que a BHP era responsável sob a lei brasileira.

A BHP deverá recorrer da decisão.

Brandon Craig, presidente da Minerals Americas da BHP, disse em comunicado que 240 mil reclamantes no caso de Londres “já foram indenizados no Brasil”.

“Acreditamos que isto reduzirá significativamente o tamanho e o valor das reivindicações nas ações de grupos do Reino Unido”, acrescentou.

O caso envolveu-se numa série de confrontos entre empresas britânicas que representam os requerentes, Pogast Goodhead e BHP.

A BHP sempre negou responsabilidade e disse que o caso de Londres duplicou o processo legal e o programa de compensação e reparação no Brasil.

A BHP e a Vale criaram uma organização chamada Fundação Renova, que tem a tarefa de indenizar as vítimas. Ofereceu-lhes uma compensação em dinheiro ou uma casa numa nova cidade que a Fundação construiu para substituir a cidade de Novo Bento, e distribuiu milhares de milhões de dólares em reparações e reparações a dezenas de milhares de pessoas.

Em junho, uma apresentação da iniciativa Samarco da BHP e da Vale disse que cerca de 130 mil pessoas no Brasil haviam se estabelecido com eles. Em resposta, Pogast Goodhead alegou que as empresas pressionaram os requerentes para “resolverem as suas reivindicações muito abaixo do seu valor real” e, como resultado, pediriam £ 1,3 mil milhões em taxas desnecessárias perdidas.

Alegou que o acordo de compensação de US$ 30,3 bilhões que o Brasil assinou com a BHP, Vale e Samarco em outubro de 2024 impediu os requerentes de negociar um acordo com a empresa ou de pagar seus honorários advocatícios.

A empresa disse que tomou emprestado US$ 1 bilhão para financiar o processo inglês.

A BHP disse que rejeitou integralmente as alegações de Pogast Goodhead e contestou “sua base factual e legal”.

Afirmou que as alegações eram “sem mérito” e que a BHP iria “contestá-las vigorosamente”. Um porta-voz também disse que a empresa acredita que o Brasil é o lugar mais apropriado, eficaz e eficiente para buscar compensação pelo rompimento da barragem.

AFP via Getty Images Wakrewa Krenac, que mora em Conselheiro Pena, a 400 quilômetros de Mariana, segura uma garrafa de água contaminada recuperada do Rio Doce enquanto fala em um alto-falante durante uma manifestação de vítimas em frente ao Tribunal Superior de Londres, em 21 de outubro de 2024.AFP via Getty Images

Algumas das vítimas do desastre abordaram o Tribunal Superior no ano passado

Mas também houve alegações paralelas de que a Pogust Goodhead – que se autoproclama como uma empresa que representa os direitos humanos e a legislação ambiental – tentou lucrar com os brasileiros “vulneráveis”.

Durante o processo, a empresa foi acusada por um juiz brasileiro no estado de Minas Gerais de “enganar” brasileiros vulneráveis ​​para seu próprio ganho.

Pogast Goodhead rejeitou a alegação como “sem mérito” na época.

Numa ação apresentada pelos promotores públicos e defensores públicos do Brasil contra Pogust Goodhead, o juiz criticou várias “cláusulas supostamente abusivas” nos contratos de Pogust Goodhead com vítimas brasileiras.

Neste, alegou que o escritório de advocacia se entregou à “publicidade enganosa”, considerando a “esmagadora vulnerabilidade das pessoas afetadas”.

Queixou-se de “taxas injustificadas sobre o valor da indenização obtida extrajudicialmente no Brasil”, que afirma ser “enriquecimento ilegal que desvia os recursos necessários das vítimas” e multas “excessivas” para os requerentes que rescindem seus contratos, o que, segundo ela, os “desencoraja” de aderir ao programa nacional de compensação.

Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, disse à BBC no início deste ano que acreditava que isso representava desinformação no Brasil.

Barbosa disse que levar o caso a Londres “prejudicou os esforços para resolver o assunto localmente” e que “brasileiros muito vulneráveis ​​foram enganados” pelo acordo.

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