Por PAUL WISEMAN | Imprensa Associada
WASHINGTON — O presidente eleito, Donald Trump, conseguiu regressar à Casa Branca, em parte, prometendo grandes mudanças na política económica – mais cortes de impostos, enormes tarifas sobre importações, deportações em massa de imigrantes que trabalham ilegalmente nos Estados Unidos.
De certa forma, a sua vitória marcou uma rejeição da gestão económica do Presidente Joe Biden e um protesto contra a inflação. Isto ocorreu apesar do baixo desemprego e do crescimento constante sob a administração Biden.
O que está por vir para a economia sob Trump? Paul Ashworth, da Capital Economics, conversou recentemente com a Associated Press. A entrevista foi editada para maior extensão e clareza.
P: Que tipo de economia Trump herdou?
Resposta: É objectivamente uma economia forte. Mas isso não significa que o homem comum concorde. Se você apenas olhar para os números de crescimento, eles têm sido fortes e a taxa de desemprego é bastante baixa. Mas a confiança do consumidor permanece fraca. Embora a taxa de inflação tenha diminuído, o nível de preços é muito mais elevado do que antes. Isto obviamente pesou sobre o sentimento do consumidor.
P: Quais serão as prioridades económicas de Trump?
R: A política fiscal tem muito a ver com a extensão dos cortes fiscais originais de Trump, que expirarão no final de 2025. A perspetiva da dívida aproximou-se dos 100% do PIB e está no bom caminho para atingir os 120% PIB em mais uma década. Prorrogar os cortes fiscais expirados significa evitar a austeridade fiscal e não introduzir estímulos adicionais à economia. Não temos certeza se veremos mais estímulos.
P: O que você espera da tarifa?
Resposta: Durante o seu primeiro mandato, Trump utilizou as tarifas como instrumento de negociação para obter concessões de outros países. Estamos a ver ecos de ameaças recentes ao Canadá, ao México e à China. Penso que a China terá uma tarifa universal de 10% e tarifas mais elevadas. Não creio que muitos países consigam negociar uma saída desta situação. Alimenta-se através dos preços dos bens de consumo final. Isso somará 1% à inflação. Mas esta é uma mudança pontual e não um aumento da taxa de inflação em curso.
P: Que impacto você espera das deportações prometidas por Trump?
Resposta: Atinge o lado da oferta da economia. Mas também prejudica a procura porque estas pessoas gastam dinheiro. A questão é saber qual deles prejudica mais, pois determina se é inflacionário ou deflacionário. A nossa suposição é que o impacto será ligeiramente maior no lado da oferta da economia, caso em que o consideramos ligeiramente inflacionário. Certos sectores como a agricultura, a construção, a transformação alimentar e a restauração serão mais afectados. É aí que se pode esperar inflação – nos preços dos alimentos, nos preços dos restaurantes. As políticas e tarifas de imigração podem reduzir meio por cento do crescimento e acrescentar 1% à inflação. Isto não é o ideal. Mas certamente não é um desastre.
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